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Fajãs da Ilha de São Jorge

O que são Fajãs?

Fajã é um termo de origem obscura que designa um terreno plano, em geral cultivável, de pequena extensão, situado à beira-mar, formado de materiais desprendidos das arribas ou por deltas lávicos resultantes da penetração no mar de escoadas de lava provenientes da vertente. António Cândido de Figueiredo, no seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, define fajã como toda a terra baixa e chã ou como pequena extensão de terreno plano, susceptível de cultura, junto a uma rocha, geralmente à beira-mar, formada em regra por materiais desprendidos por quebradas ou acumulados na foz de uma ribeira e assentes quase sempre num banco de lava muito resistente.

A palavra fajã está expandida em toda a Macaronésia lusófona, sendo muito comum nos Açores, onde aparece em quase todas as ilhas, na ilha da Madeira e em muitas ilhas de Cabo Verde.

Embora o termo fajã seja em geral utilizado para designar plataformas costeiras, é por vezes utilizado na toponímia da Macaronésia em ligação a pequenas zonas planas anichadas junto a montes ou colinas com encostas íngremes. É o caso das zonas aplanadas onde se situam as freguesias de Fajã de Baixo e de Fajã de Cima, na ilha de São Miguel, ambas freguesias interiores sem qualquer ligação à costa. O mesmo acontece com o topónimo Fajã das Ovelhas, um local de altitude, nas faldas norte da Serra de Santa Bárbara, na ilha Terceira. Nesta acepção a palavra confunde-se com o termo achada, também utilizado na Macaronésia para descrever uma zona aplanada entre montes, em especial as plataformas planálticas suspensas entres os grandes vulcões centrais das ilhas e a costa.


Apesar de existirem fajãs em quase todas as ilhas da Macaronésia, elas são mais comuns, ditando em boa parte a distribuição da população, na ilha de São Jorge. Naquela ilha, as vilas sedes dos seus dois concelhos, Velas e Calheta, situam-se em fajãs, o mesmo acontecendo à vila das Lajes do Pico, na vizinha ilha do Pico.


Fajã da Caldeira de Santo Cristo

Fajãs da Ilha de São Jorge?

Para efeitos de preservação e salvaguarda do património natural e cultural das fajãs da ilha de São Jorge, o conceito de fajã foi objecto de consagração legal, tendo o parlamento açoriano, através do Decreto Legislativo Regional n.º 32/2000/A, de 24 de Outubro, definido que se entende por fajã toda a área de terreno relativamente plana, susceptível de albergar construções ou culturas, anichada na falésia costeira entre a linha da preia-mar e a cota dos 250 m de altitude.

Fajã de Vasco Martins, aspecto da riqueza da Biodiversidade da flora.

Devido à sua origem, a geomorfologia das fajãs ganha em geral um carácter de pronunciado anfiteatro, de extensão e inclinação muito variáveis, em geral com o declive aumentando rapidamente com a aproximação do sopé da falésia ou encosta. No caso das fajãs litorâneas, a encosta que as delimita pelo lado de terra é em geral uma arriba fóssil que mantém o seu carácter de falésia costeira, incluindo a flora e fauna que lhe são típicas.

 

Pelas suas características climáticas, particularmente quando voltadas para sul ou sueste, e pela abundância de recursos naturais, aliada à facilidade de acesso ao mar, já que virtualmente todas as fajãs têm o seu portinho, as fajãs foram locais de fixação inicial dos colonizadores, tendo sido a partir delas que irradiou o povoamento das terras altas do interior.

A diferenciação climática é tal que nas fajãs costeiras do sul da ilha de São Jorge, em especial na Fajã de São João, existem microclimas onde, com plantas trazidas do Brasil, se fizeram pequenas plantações de cafeeiro, os quais produzem cerca de 50 kg/planta/ano de excelente café, seguramente o local de mais alta latitude onde aquela planta cresce.

 

Fajã dos Cubres

Tipos de Fajãs

 

De acordo com as suas características, origem e localização, as fajãs podem ser classificadas em:

 

Fajãs costeiras – fajãs em contacto directo com o litoral.

 

Fajãs de delta lávico – fajãs criadas quando as escoadas de lava avançam sobre o mar, provocando o recuo da linha de costa. Estas fajãs, em geral muito resistentes à erosão do mar por serem constituídas por grandes massas rochosas compactas e sem fissuração apreciável, são em geral delimitadas por costas abruptas, angulosas, fortemente recortadas, com grandes calhaus no seu sopé. Os solos, quando não tenha havido recobrimento por materiais de projecção ou derrocadas posteriores, são em geral esqueléticos. À superfície destes deltas podem ocorrer pseudo-crateras ou cones litorais e a erosão da frente da escoada ou uma drenagem posterior conferem-lhe frequentemente um aspecto digitado. São frequentes os arcos rochosos costeiros e as grutas marinhas resultantes da infra-escavação pela erosão por acção do mar.

 

Fajãs de talude (ou fajãs detríticas) – são fajãs criadas pela acumulação de materiais resultantes do desmoronamento das encostas sobranceiras. Estas fajãs tendem a ser mais aplanadas e, por serem constituídas por materiais soltos, facilmente sujeitos ao transporte pelas ondas, têm em geral costas de formas suaves e quase rectilíneas, com praias de calhau rolado de dimensão variável. Nas costas mais expostas à ondulação, em geral as viradas a norte, formam-se por vezes cordões de calhaus rolados que conduzem ao aparecimento de formações lagunares (como acontece na Fajã da Caldeira de Santo Cristo). Os solos destas fajãs são em geral muito férteis, embora as mais perigosas para habitação humana, dada a recorrência dos desmoronamentos. Os grandes terramotos tendem a formar novas fajãs deste tipo, como aconteceu profusamente no grande sismo do Mandado de Deus, na metade leste de São Jorge.

 

     Fajãs de altitude e pequenas achadas – fajãs encaixadas em encostas longe do mar, em geral pequenos planaltos ou vales aplainados no sopé de montanhas ou de cones vulcânicos.

 

      Fajãs de encosta – plataformas formadas em consequência de quebradas que deixam plataformas de ablação nas encostas. Em geral de pequena extensão, apresentam pouco interesse para uso humano, mas são importantes como biótopos para espécies que exigem boa exposição solar e boa drenagem.

 

      Fajãs de sopé ou pequenas achadas – são plataformas aplanadas existentes no sopé de encostas ou entre cones vulcânicos. O termo achada resulta do seu interesse como locais privilegiados de cultivo, preferidos para fixação pelos colonizadores quando os achavam no desbravar das ilhas.

 

Fajã dos Vimes

Lista das Fajãs da Ilha de São Jorge

 

São tantas as fajãs em São Jorge que é impossível fazer uma listagem exaustiva, até porque em relação às mais pequenas, nalguns casos simples plataformas encaixadas nas falésias, a toponímia por vezes não é concordante, a designação dada dependendo do interlocutor e da povoação em que habita.

 

Lista das fajãs da ilha de São Jorge:

Fajã Mata Sete;

Fajã de Fernando Afonso;

Fajã do Pedregalo;

Fajã Amaro da Cunha;

Fajã da Ermida;

Fajã Maria Pereira;

Fajã do Boi;

Fajã de João Dias;

Fajã do Calhau Rolado;

Fajã do Centeio;

Fajã do Valado;

Fajã de Entre Poios;

Fajã da Pelada;

Fajã do Cerrado das Silvas;

Fajã da Choupana;

Fajã do Canto;

Fajã da Vereda Vermelha;

Fajã de Vasco Martins;

Fajã Rasa;

Fajã de Manuel Teixeira;

Fajã das Fajanetas;

Fajã da Ponta Furada;

Fajã Rasa

Fajã da Ponta Nova;

Fajã do Caminho do Meio;

Fajã de Além;

Fajãzinha, ilha de São Jorge

Fajã do Ouvidor;

Fajã Isabel Pereira;

Fajã da Ribeira da Areia;

Fajã Chã;

Fajã da Ponta Grossa ou do Mero;

Fajã dos Azevinhos;

Fajã das Funduras;

Fajã da Abelheira:

Fajã da Penedia;

Fajã das Pontas;

Fajã da Neca;

Fajã da Betesga;

Fajã dos Cubres;

Fajã do Belo;

Fajã dos Tijolos;

Fajã da Caldeira de Santo Cristo;

Fajã da Caldeira de Cima;

Fajã Redonda;

Fajã do Sanguinhal;

Fajã do Nortezinho;

Fajã do Norte Estreito;

Fajã da Ribeira Funda;

Fajã do Norte das Fajãs;

Fajã do Salto Verde;

Fajã do Castelhano;

Fajã de Entre Ribeiras;

Fajã das Cubas ou da Baleia;

Fajã Fajanzinha;

Fajã do Labaçal;

Fajã da Rocha ou da Coqueira;

Fajã do Cruzal;

Fajã do Cardoso;

Fajã da Saramagueira;

Fajã de São João;

Fajã de Além;

Fajã do Ginjal;

Fajã das Barreiras;

Fajã do Cavalete;

Fajã dos Bodes;

Fajã da Fonte do Nicolau;

Fajã dos Vimes;

Fajã da Fragueira;

Fajã Grande, ilha de São Jorge;

Fajã das Almas;

Fajã do Negro;

Fajã de Santo Amaro;

Fajã do Lemos;

Fajã das Feiteiras.

Fajã dos Cubres

As Fajãs na Biosfera


A Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge tem uma área total de 98.114, 17 ha, correspondendo a todo o espaço terrestre da ilha de São Jorge e a uma área marinha envolvente, cujo limite exterior dista 3 milhas da linha de costa.

A ilha de São Jorge apresenta uma extensa linha de costa, em resultado da sua configuração alongada e o aspeto montanhoso é devido sobretudo às arribas escarpadas, principalmente na costa norte, o que torna a paisagem mais abrupta. A par dos vales encaixados existem outros que nem chegam a atingir o nível do mar, ficando suspensos no alto da arriba dando origem a magníficas cascatas. Na orla costeira surgem pontualmente superfícies planas, designadas fajãs (fajãs de talude e fajãs lávicas) que constituem uma característica diferenciadora da ilha, pela relação equilibrada entre o homem e a natureza e pelas vivências únicas, paisagens e biodiversidade. Os costumes associados às fajãs, singulares nos Açores, foram sendo consolidados ao longo dos anos, resultando numa especificidade cultural que se mantém até aos dias de hoje. 


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